Festas de Agosto

Lá vem os Catopês, Marujos e Caboclinhos

“Agosto chega com a ventania” trazendo as seculares Festas de Agosto e suas manifestações religiosas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Divino Espírito Santo.

Foto: Luis Alberto Caldeira
Logo os Catopês, Marujos e Caboclinhos serão vistos subindo e descendo ruas da cidade, dançando aos sons de seus instrumentos musicais, acompanhados por multidões e com destino à Igrejinha do Rosário. São homens, mulheres e crianças em procissões que remontam aos nossos primórdios, antes mesmo de Montes Claros, por volta de 1839, oficializar os primeiros festejos que acontecem sempre de 17 a 21 de agosto.

Quando se fala em Festas de Agosto com seusCatopês (que homenageiam os negros na formação do povo brasileiro), Marujos (que exaltam os marinheiros portugueses e os princípios do catolicismo) e Caboclinhos (que simbolizam a mistura de raças em nosso país), o nome de um cidadão de 83 anos de vida, descendente de escravos, imediatamente vem à tona: João Pimenta dos Santos.

Mestre Zanza (Foto: Fábio Marçal)
Muitos podem não ter ideia de quem se trata, mas, só por um breve momento, até saberem que se trata de Mestre Zanza. Todos conhecem. Conversamos com o Mestre na sede da Associação dos Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros, que ele preside há mais de 20 anos, no bairro Morrinhos, enquanto finalizava detalhes de suas indumentárias coloridas, trabalho que interrompeu para falar um pouco de sua vida.

“Sou um dos 15 filhos de João Pacífico Pimenta e Viviani Martins Santana. Treze já morreram e apenas eu e meu irmão mais velho, Roberto, que por muitos anos participou da marujada, estamos vivos. Ele não acompanha mais as Festas de Agosto, mas eu, enquanto estiver vivo, mesmo arrastando, estarei presente”, garante Mestre Zanza, que realmente já não possui tanta disposição física para seguir os festejos como antes, sem deixar de fazê-lo, no entanto.

RELIGIOSIDADE
Mestre Zanza conta que é de família católica e que se tornou catopê logo no primeiro ano de vida, por decisão dos pais e de um ex-escravo, Pacífico Pimenta, seu avô. “Nasci e cresci em casa de catopê e vou morrer como catopê”, completa Mestre Zanza.

Sobre as programações mais recentes das Festas de Agosto, que passaram a incluir apresentações artísticas e culturais em meio às manifestações religiosas, ele diz que “até lamenta” o fato de elas não terem mais a religiosidade como exclusiva característica, mas entende que os tempos mudaram e exigiram uma programação aberta a outras manifestações, "sem prejudicar, no entanto, a sua autenticidade".

“Hoje tem muito luxo também, diferente dos tempos em que os catopês, marujos e caboclinhos saíam pelas ruas descalços, porque não tinham sapatos ou chinelos. Mas o que importa é que elas continuam vivas, reunindo o povo, seja ele branco, preto, rico ou pobre. Importa que elas mantêm as nossas tradições, costumes, crenças e história. Mas a religiosidade continua sendo o maior motivo das festas.”

Mestre Zanza sente orgulho de ser uma das pessoas que dedicaram toda a vida para que a tradição religiosa das Festas de Agosto nunca perdesse a sua importância. Um esforço que ele dividiu com vários companheiros, alguns falecidos recentemente.

“Este foi um ano negro para nós. Até me arrepio quando falo disso. Perdemos muita gente. Gente que deixou muita saudade”, lamenta o Mestre, com a voz embargada ao lembrar com saudades de amigos como Antônio Cachoeira, chefe dos Marujos, e José Expedito, Chefe dos Catopês. “Perdi também o meu cunhado, Wilson, que era catopê como eu. Essas pessoas fazem muita falta”, diz ele, destacando outras figuras que considera importantes na manutenção das Festas de Agosto e que “graças a Deus continuam vivas”.

“Dona Marina Lorenzo Fernandez, sua filha Antonieta, dona Marlene Almeida, Tadeu Leite, Ruth Jabur e Hamilton Trindade, entre outras, são pessoas que considero esteios das Festas de Agosto. Sem elas, acredite, muita coisa teria desaparecido com o passar dos anos”, encerra Mestre Zanza.

PROGRAMAÇÃO
As Festas de Agosto, que neste ano chegam à sua 177ª edição, terão sua abertura oficial dia16, terça-feira, às 20 horas, no Centro de Cultura Hermes de Paula. Na quarta (17), a programação religiosa terá início às 22 horas com o hasteamento do Mastro de Nossa Senhora do Rosário, na Praça Portugal.

Na quinta (18), acontece o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, com o cortejo saindo às 10 horas da Praça do Automóvel Clube. Na sexta (19), também às 10 horas, será a vez do cortejo do Reinado de São Benedito. No sábado, no mesmo horário e local sairá o cortejo do Império do Divino Espírito.

No domingo, na sede da Associação, às 10 horas, será realizado o Encontro de Ternos de Congado, com a participação de grupos convidados de várias cidades do estado e do país. A programação termina às 16 horas com Procissão de Encerramento saindo da Praça da Matriz. A programação artístico-cultural terá lugar no palco principal do evento, na Praça Portugal, nas noites de sexta,sábado e domingo.

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