Helvécio Marins/Cinema no Rio

SÉTIMA ARTE NAS TRILHAS DO VELHO CHICO
Pelo quarto ano consecutivo, a expedição Cinema no Rio leva a cidades do Norte de Minas a magia do cinema brasileiro. Neste sábado, o barco Luminar aporta em Pirapora, primeira cidade a receber a expedição, que acontece de 11 a 25 de agosto

 

POR JERÚSIA ARRUDA
 
A sétima arte volta a ser atração nas cidades ribeirinhas ao longo do rio São Francisco, com a realização da quarta edição do projeto Cinema no Rio. A bordo do barco Luminar, a expedição navega pelas águas do Velho Chico, fazendo paradas pelas cidades localizadas em suas margens, para exibição de filmes em plataforma 35mm.

Na edição deste ano, no período de 11 a 25 de agosto, treze comunidades mineiras recebem o projeto, que começa na cidade de Pirapora e vai até Manga, com uma programação de filmes cuja maior característica é a brasilidade. A curadoria do projeto, formada pelo idealizador e coordenador Inácio Neves e pelo cineasta Helvécio Marins, escolheu quatro longas-metragens, quatro curtas em animação, três curtas em ficção e dois documentários de produção nacional.

Nos formatos de longa-metragem o Cinema no Rio 2007 vai exibir: Tapete Vermelho, de Luiz Alberto Pereira; Abril Despedaçado, de Walter Salles; Narradores de Javé, Eliane Caffé e O Ano que os meus pais saíram de férias, de Cao Hamburger. Os curtas-metragens programados são: Nascente, Helvécio Marins; Da janela do meu quarto, de Cao Guimarães; Cega Seca, de Sofia Federico; O fim e o princípio, de Eduardo Coutinho e Doutores da Alegria, de Mara Mourão, além dos curtas em animação da série Juro que vi, O Curupira e O Boto e Matinta Perera, de Humberto Avelar, e Iara, de Sérgio Glenes.

Embora as produções escolhidas sejam mais autorais e populares, Helvécio Marins diz que elas acabam dialogando entre si e representam a força do provo brasileiro, seja qual for seu contexto.

- A intenção é levar para o projeto filmes que causam identificação com o sertanejo e os ribeirinhos, história que estejam diretamente ligadas ao seu universo - explica. Esse é o caso dos filmes Cega Seca, Narradores de Javé e Tapete Vermelho. Também foram incluídos na programação filmes que retratam um momento histórico do País, caso do longa O ano em que meus pais saíram de férias, e produções de cunho social, como Doutores da Alegria.

- Temos filmes que não se referem exatamente ao universo das comunidades ribeirinhas, mas a linguagem é universal – ressalta Marins.

A curadoria também manteve os documentários, segundo Marins, por considerar importante essa linguagem mais próxima ao real.

Marins destaca O fim e o princípio como a produção que mais se aproxima do caráter do Cinema no Rio, por trazer uma narrativa de uma equipe de cinema que chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias a contar. O curador destaca, ainda, a qualidade de produção da série Juro que vi, além da temática que resgata o folclore brasileiro e as lendas do imaginário popular.

- A seleção dos filmes é pensada em função do público. Já conhecemos todas as cidades então idealizamos a escolha dos filmes de acordo com o perfil de seus moradores. Imaginamos a reação do público. É um processo cuidadoso – salienta o cineasta.

Idealizador do projeto, Inácio Neves diz que a proposta é difundir a linguagem cinematográfica, em especial a produção brasileira, para um público formado, em sua maioria, por pessoas que nunca entraram em uma sala de cinema, contribuindo, assim, para a democratização do acesso à arte audiovisual. Além disso, o projeto valoriza a experiência cultural coletiva e abre caminhos para a criação de novos públicos.

Inácio conta que, assim que a equipe do projeto chega ao município, registra em vídeo digital depoimentos dos moradores, imagens dos locais mais conhecidos, o cotidiano, as paisagens. As imagens são editadas e, à noite, são projetadas antes da exibição do filme e as pessoas têm a oportunidade de se verem na tela.

- A idéia é propiciar ao público a oportunidade de expressar seu ponto de vista. Todo o trabalho agrega valores regionais às sessões, dando a cada uma um toque especial, um caráter singular. A intenção é que futuramente todos os vídeos resultem em um documentário e sejam exibidos em emissoras de televisão educativas e universitárias – explica.

Na avaliação de Inácio, o cinema ainda é muito elitizado, cerca de 96% dos municípios brasileiros não possuem uma sala de cinema e o projeto se inspira neste público ainda intocado pela sétima arte.

Com uma tela inflável de 10m x 7,5m, projetor 35 mm, processador dolby digital, lâmpadas de 3.000 watts e jogo de lentes, sistema de som que chega a 7.000 wats, 200 cadeiras, pipoqueira elétrica, com distribuição gratuita de pipoca para o público, durante 15 dias, o Cinema no Rio vai percorrer um trecho, velho conhecido de tropeiros e bandeirantes, perscrutando um pouco mais da história desse Brasil, ainda desconhecido por muita gente. 

A primeira parada do Luminar acontece neste sábado, em Pirapora, cidade localizada a 347 km de Belo Horizonte. Em seguida, vai para Buritizeiro, conhecido como um dos mais belos municípios do Norte de Minas. Depois o Luminar segue para Ibiaí, Ponto Chique, Cachoeira do Manteiga, São Romão, São Francisco, Pedras de Maria da Cruz, Januária, Itacarambi, Matias Cardoso, até chegar em Manga, onde encerra o trajeto.

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