Petrônio Braz

EM BUSCA DA IDENTIDADE PERDIDA
Numa narrativa densa, instigante e universal o escritor Petrônio Braz reconta a saga de Antônio Dó, revelando sua verdadeira personalidade




Desafio. Essa é a palavra que melhor define o cotidiano do mineiro de São Francisco Petrônio Braz, cuja vida sempre foi pautada por provocações do destino desde a adolescência. Dono de firme determinação e sempre em busca do novo - ou do renovo-, Braz, com sabedoria, simplicidade e peculiar elegância, diz que se não venceu um desafio, também não foi vencido por nenhum deles, pois nunca se furtou à luta.

Presidente da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco (Aclecia), advogado, escritor, professor, assessor e consultor jurídico com vasta experiência no convívio teórico e prático com a administração pública municipal, Petrônio Braz ocupou todos os cargos eletivos em sua cidade natal – tendo sido o único juiz de paz eletivo no município –, unindo a experiência de mais de quarenta anos no meio político e administrativo, desde quando foi vereador e, depois, prefeito de São Francisco, ao aprendizado no mundo do direito, após bacharelar-se em Brasília/DF. Politicamente, como ele mesmo diz, chegou onde pretendia.

Jurista experiente, presta consultoria a agentes públicos administrativos municipais e também a professores de Direito Administrativo direcionado ao campo específico do município.

Autor de oito livros, cinco deles de literatura jurídica, e agora lançando o romance Serrano de Pilão Arcado, A Saga de Antônio Dó, resultado de 23 anos de estudo sobre a saga de Antônio Dó, dos costumes, linguajar, crendices, indumentárias e modos do sertão baiano-mineiro, além de um dicionário do vocabulário típico da região sanfranciscana.
Em entrevista exclusiva à Jornalista Jerusia Arruda, Petrônio Braz abre o coração e fala sobre seu trabalho como agrimensor, jurista, professor e escritor, suas andanças pela região onde Antônio Dó viveu, e como foi desafiado a tornar pública sua história e os verdadeiros motivos que o levaram a se rebelar.

Com emoção, o escritor relembra o natal de 2006 ao lado dos 12 filhos e esposa, frutos de dois casamentos, e da alegria de poder compartilhar suas experiências em uma obra que considera seu maior desafio e, também, sua maior realização.



Fale um pouco sobre sua formação acadêmica
Nos tempos em que meu pai pagou meus estudos fiz o curso médio de agronomia, em Viçosa/MG, porque ele queria que tomasse conta da fazenda, apesar de saber que seu sonho era que eu fosse advogado. Mas ele me enveredou muito cedo pela política e fiquei durante um bom período atuando como técnico agrimensor e fui diretor da estação experimental de agricultura de São Francisco, embora sempre atuando mais na área política. Depois me transferi para Brasília, onde estudei Direito, que era o que sempre desejei. Entrei para a faculdade aos 48 anos, estudando, inclusive, junto filho, e a partir daí passei a atuar efetivamente como advogado. Com a Constituição de 1988, que abria aos municípios a possibilidade de criação das leis orgânicas próprias, parti para o aperfeiçoamento na área de direito público municipal e assessoria a municípios.



Como começou a escrever?
Minha primeira obra foi Jandaia em Tempo de Seca, escrito nos idos de 78/79, mas por incrível que pareça não foi na época bem recebido pela minha família, aliás, pela minha primeira esposa, por causa dos termos mais realistas, que ela chegou a classificar como imoral. Foi preciso que tivesse uma segunda edição, onde Manoel Higyno fez um comentário classificando o livro como um ponto de partida da literatura do Vale do São Francisco.


Para um agrimensor e advogado, no Jandaia dá para perceber que sua veia poética já é bem latente.
Em parte sim. Eu já havia publicado um pequeno livro de poesia pelas edições Caravelas, do Rio Grande do Sul.



Como aflorou essa veia poética?
Acho que nasceu pela vontade de fazer, de escrever.

Sei que ficou durante anos coletando dados sobre Antônio Dó. Isso foi curiosidade, ou realmente com a intenção de escrever um livro?Eu te afirmo que não foi para fazer um livro. Quando foi lançado o filme Antônio Dó, em 1979, eu assisti em Brasília e saí decepcionado porque o filme mostra um bandido sem mostrar o homem, não tem autenticidade, não se cuidou nem de verificar os personagens. Mostra uma situação apenas vinculada ao nome Antônio Dó, sem conhecer a história Antônio Dó. Eles fundamentaram apenas o lado da polícia, o bandido sendo perseguido pela polícia. E o Antônio Dó era para nós um mito desde a juventude em São Francisco. Ouvíamos conversas e sabíamos que ele tinha sido perseguido, conhecíamos em parte os motivos, mas era muito vago. Meu pai também escreveu sobre Antônio Dó (São Francisco nos caminhos da história – Brasiliano Braz), mas ele viu o lado da sua influência na política de São Francisco, na mudança de comportamento dos chefes políticos da época. Depois que vi o filme, achei que era preciso ir além. Todo mundo só via o lado objetivo: Antônio Dó foi um bandido, invadiu a cidade, provocou a morte de um oficial de polícia. Mas em termos subjetivos, porque esse homem foi levado a fazer isso se ele era um fazendeiro próspero para a época? Teria tido ou não razão para as ações dele? Ninguém falou. E foi assim que comecei minha pesquisa.

Como coletou os dados?
Fui anotando das informações orais, tive ajuda do centro de estudos avançados da USP, onde tinha alguma coisa publicada sobre Antônio Dó e fiz pesquisa em jornais da época, em Belo Horizonte.

Em que momento passou a considerar a possibilidade de transformar essa pesquisa em livro?
Foi uma coincidência. Eu estava no fórum em São Francisco e o escrivão me falou que o juiz havia mandado separar uns processos que estavam jogados numa salinha, sem catalogar. Ele disse que entre eles havia um processo de Antônio Dó e resolvi verificar. Nem Saulo Martins, nem Guimarães Rosa, nem Brasiliano Braz, que escreveram sobre Antônio Dó, tiveram acesso a esses papéis. Não tiveram nem conhecimento deles, embora meu pai tivesse vivido na mesma época de Antônio Dó. O escrivão disse que se quisesse poderia levar, pois iriam ser queimados por ordem do juiz. Da análise desse processo juntei com o que já havia pesquisado e consegui comprovar realmente de onde partiu toda perseguição contra Dó. Esse processo existe, só eu tive acesso a ele, e no dia que tiver um arquivo público em São Francisco vou entregá-lo para fazer parte do acervo histórico da cidade. Por sorte João Botelho também conseguiu salvar todos os outros processos antes que fossem incinerados. Não sei o que deu na cabeça desse juiz de mandar queimar esses processos antigos. Um total desrespeito à história do município. A partir daí comecei a pensar em escrever o livro como um desafio de contar a verdadeira história de Antônio Dó.

Seria possível fazer um paralelo entre a história de Antônio Dó e a de Lampião?
Acho que Lampião foi um produto do meio na época. O Nordeste era uma região onde realmente existia uma disputa muito grande entre os usineiros, proprietários rurais, coronéis e a população como um todo. Não acredito que exista nenhum ponto comum entre os dois, a não ser a irresignação com a perseguição.

Como foi que Antônio Dó se rebelou?
Antônio Dó não tirou nada de ninguém. É verdade que no final da vida ele foi um pouco bandido, mas a princípio não. Ele só queria receber de volta o que havia perdido por perseguição política. Ao contrário de Lampião, ele não saía com um bando invadindo propriedades, roubando, matando. Para se defender da polícia ele procurava um lugar para se estabilizar, tanto é que ficou mais de ano como garimpeiro em Arinos. Depois, quando retornou a São Francisco foi com um bando de jagunços para se garantir contra qualquer perseguição. Mas era tido como “procurado”. Então se estabeleceu no distrito de Brejo da Passagem, hoje distrito de Serra das Araras, no município de Chapada Gaúcha, como uma espécie de mandatário, dono da região.

Os moradores o respeitavam?
Respeitavam. Ele fazia divisões, partilhas, casamentos, separações, dividia bens. Durante uns dez a quinze anos ele mandou naquela região sem ser perseguido pela polícia. Em razão de uma partilha de bens de um inventário que tinha ficado todo com a viúva de um morador da região, ele redividiu, dando a metade para ela e a outra para os filhos. O fato foi levado à justiça em São Francisco que, considerando que ele não tinha autoridade para fazer essa divisão, prendeu as pessoas beneficiadas. Dó então resolveu soltar essas pessoas. Foi sua última odisséia. Ele passou pela Ponte dos Ciganos, hoje São João da Ponte, para conseguir mais jagunços, e entrou em São Francisco pela última vez. Adão Oliveira da Rocha impediu que ele fizesse o ataque a São Francisco.

Como foi que ele morreu?
Um oficial de justiça foi enviado para fazer a intimação e a prisão dele, mas não chegou a fazê-lo porque tinha sido morto antes por Chico Nenê, de Brasília de Minas.

Por que ele foi morto?
Na década de 20 começaram a ser feitas as divisões de terra na região de São João da Ponte. O agrimensor estava lá fazendo a divisão e o padre Gangana, que por sinal era de São Francisco, pediu a Antônio Dó para que o afastasse de lá. O agrimensor era irmão de Chico Nenê, que era político em Brasília de Minas e também levou seus jagunços para o local. Mesmo assim Antônio Dó afastou o agrimensor, mas Chico Nenê infiltrou dois jagunços dele no grupo de Dó que, um ano depois, aproveitando a situação de conflito com a justiça, o mataram.

Nos textos de apresentação dá para fazer uma leitura de comparação e até de continuidade da obra de Graciliano Ramos e Euclides da Cunha.
Seria um encaixe.

Foi intencional?
Não foi. Guimarães Rosa deu conhecimento à nação brasileira do grande sertão. Aliás, a expressão grande sertão é criação dele.

Inclusive o Antônio Dó é personagem de seu livro (Grande Sertão:Veredas).
Sim, esporádica, sem profundidade, mas está lá. Acredito que características e peripécias de outros personagens do livro tenham sido inspiradas nas conversas sobre os feitos de Antônio Dó.

Além de um desafio superado, Serrano de Pilão Arcado poderia significar uma realização?
Totalmente, eu o tenho como a realização cultural de minha vida.

Foi seu maior desafio até então?
Com toda certeza. Eu te afirmo, eu tenho oito livros escritos. Esse pra mim vale mais do que todos oito juntos.

A história de Antônio Dó se identifica com o cotidiano do sertanejo mineiro-baiano?
Como é hoje?
O nível de compreensão da leitura e apreensão de conteúdos pelo estudante brasileiro está abaixo da média proposta pela Unesco e o Ministério da Educação propõe incluir na escola básica o ensino da Filosofia e da Sociologia, de forma a melhorar esse quadro.É importante, também, reduzir algumas disciplinas para que o aluno tenha tempo suficiente para acompanhar o processo, para que realmente dê resultados. Eu discordo plenamente, por exemplo, com a retirada do latim do currículo porque, mesmo sendo uma língua morta, foi o latim que deu origem à maioria das línguas faladas hoje e, além do mais, traz a objetividade do raciocínio. Não dá para fazer análise lógica ou morfológica sem conhecimento do fundamento da palavra. A questão da leitura é hábito, a criança tem que ser estimulada para que, com o tempo, se familiarize e possa melhor compreender. Têm pessoas, e não são poucas, que terminam o terceiro grau sem saber ler, se falarmos em compreensão. No exame de ordem do ano passado, apenas 6,3% dos bacharéis em Direito conseguiram passar. Quer dizer, falta preparo cultural. As faculdades não estão se preocupando com a formação do profissional, mas com a quantidade de alunos que forma ou que nela ingressam anualmente. A leitura é feita porque vai cair na prova, no vestibular, e não pelo prazer de ler. Então eu pergunto: essa correria, essa massificação do ensino está valendo a pena?

O livro então é um desafio vencido?Reconheço que é um desafio vencido e é com certo orgulho que passo as mãos na capa dele.
O que tem seu nesta obra?Qual livro que não tem muito de seu autor? Talvez o Padre Alkimim seja um Petrônio, o professor seja um Petrônio. É impossível separar o autor dos seus personagens...

... O criador da criatura...É, não há como separar realmente. O que pensa homem de conhecimento um pouco mais evoluído, de certa forma, é o que pensa Petrônio Braz. Agora, o que pensa o homem simples é o que Petrônio Braz aprendeu com ele.
O livro ainda não foi lançado oficialmente?Não, ainda está embalado. Será lançado nesta semana.

Tem algum projeto de transformá-lo em roteiro de filme?Tive umas conversas com Teo Azevedo e depois com Jackson Antunes sobre o assunto, mas ainda não tem nenhuma proposta certa. Depois outro grupo me pediu um exemplar e eu enviei. Vamos ver o que vai acontecer.

Qual foi seu maior aprendizado na produção desse livro?Respeito à pessoa humana. A história de Antônio Dó é um exemplo para que não possa nem deva prosperar qualquer perseguição, seja ela de que natureza for.

Hoje é diferente. O povo adquiriu consciência. O que existia antes era subordinação, aceitação do poder. O povo não sentia autoridade porque ele não criava autoridade. Ele recebia autoridade. E muitas vezes a autoridade não estava preparada para o exercício do poder. Eu não sou contra o coronel. O coronelismo foi um bem necessário a esse país, na sua devida época e condições. Sem o coronel no interior o Brasil não teria desenvolvido, porque o Estado não estava presente para dar garantia ao povo, e até hoje ainda não está. Eram os coronéis que faziam as vezes do Estado e tiveram um papel importantíssimo, tanto que são respeitados até hoje pelas comunidades onde viveram.

Em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freire deixa claro que o escravo gostava do seu senhor.
Claro. O escravo estava conformado com sua condição. Ele tinha aquilo como forma de vida e tinha ali tudo que pretendia ter. A visão, o ideal de vida dele era aquele. É verdade que houve abuso de autoridade, como até hoje ainda tem. Mesmo assim, temos que nos atentar para uma realidade. Até 1960 ainda existia o princípio de autoridade no país. A evolução política, somada à irresponsabilidade dos dirigentes, especialmente depois da revolução de 1964 - e a corrupção nasceu com ela -, está havendo hoje, principalmente no Brasil que difere de muitas partes do mundo, um total desrespeito ao principio de autoridade e em razão disso, há um total desmando, um crescimento do crime organizado, a instabilidade, o desrespeito de pai para filho, pelas pessoas de um modo geral. Quer dizer, não está havendo esse princípio de autoridade porque a autoridade não se faz respeitar. Porque não se pode admitir que se tenha respeito por governantes que não respeitam o cargo que exercem. Pode escrever o que estou lhe falando: se não houver uma mudança radical vamos chegar a uma revolução, ao anarquismo social.

Depois de tantos anos, com a história sendo repassada na oralidade, qual a impressão do povo da região sobre Antônio Dó?São Francisco não guardou sua história. As escolas fazem dramatizações, mas de um modo geral, junto ao povo, está caindo no esquecimento. Até a década de 1950 ainda era lembrado, mas daí pra cá, não mais. Com Serrano de Pilão Arcado minha pretensão é que a população do município tenha conhecimento de Antônio Dó, da realidade, do homem, do cidadão Antônio Dó.

O resgate histórico como o que foi feito em Serrano de Pilão Arcado, pode ajudar a comunidade na compreensão de sua história e a minimizar esses conflitos, ou pelo menos entender suas causas?Eu vejo na história de Antônio Dó um marco de rebeldia contra o abuso de autoridade. O cidadão que não aceitou a opressão, não se omitiu, mas não teve condições de resgatar seus direitos nem mesmo pela força porque ele não tinha a quem apelar, se o próprio Estado, a serviço dos mandões, dos coronéis, dos chefes políticos, estava contra ele. É no mínimo um motivo para reflexão.

No livro é possível perceber uma leitura de mundo, uma impressão sensorial muito grande do autor em relação à linguagem, ao cenário. Como formatou isso?Vivi muito tempo na roça, trabalhei 20 anos como agrimensor e percorri a cavalo toda a região onde Antônio Dó viveu. Freqüentei terreiro para saber de que forma Antônio Dó tinha o corpo fechado; não poderia descrever uma passagem de um terreiro sem ter ido a um, ou sua vida no garimpo sem viver pelo menos uma semana lá. Uma grande diferença entre conhecer o sertão e descrever o sertão como fez o Guimarães Rosa – apesar dele ter descrito muito melhor que eu - porque ele apenas percorreu a cavalo de Cordisburgo a Paracatu acompanhando a boiada e ouvindo histórias, mas não entrou no sertão. Eu sei o que é uma vereda realmente; o que é dormir ao relento; cavalo peado de pé e mão; comer rapadura com farinha numa viagem; passar uma semana debaixo de chuva viajando a cavalo; eu fiz isso. Não em razão do livro, mas pelo meu trabalho como agrimensor. Além do livro, reuni ao longo desses anos uma coletânea de palavras do linguajar da região e vou lançar um dicionário com o vocabulário sanfranciscano. Queria lançar junto com o livro, mas não deu. Já está no prelo e deve sair em março.

Sua narração é fluente, transporta o leitor, mexe com a imaginação e às vezes confunde lenda e realidade.A intenção é realmente essa, que o próprio leitor crie uma imagem e um cenário para o personagem. Dou apenas as linhas mestras para que ele individualize um personagem.

Como desenvolveu essa linha?Sou um leitor assíduo de Machado de Assis e ninguém conhece a língua portuguesa sem se debruçar sobre seus livros. Eu o reputo como pai da língua portuguesa no Brasil. De forma que minha escrita, minha forma de expressão tem muito dessa aprendizagem. Padre Antônio Vieira, Alexandre Herculano são as pessoas que também me deram motivação para escrever. No mais, é aquela busca do conhecimento, fixar uma forma própria de escrita. Tento buscar o subjetivo do personagem, transmitir seus sentimentos, sua natureza, seu lado humano, suas forças e fraquezas. Também fui professor muitos anos e isso ajuda na didática, na forma de conduzir a história.

Como foi sua experiência como professor?Nós não tínhamos uma metodologia moderna como hoje. Procurava-se transmitir conhecimento da história sob o ponto de vista temporal. Pegava-se a história antiga até chegar à moderna.

As pessoas aprendiam bem?
Acredito que sim e tenho uma satisfação muito grande em dizer que meus alunos, de Várzea da Palma, especialmente, venceram na vida. Se tiver alguma exceção, é pouca.

Se comparar à época em que lecionou, como vê qualidade da educação hoje?
Estudei o primeiro ano de Pedagogia, primeiro ano de Letras, fui aluno da primeira turma da Faculdade de Filosofia de Montes Claros, e esse questionamento sobre a educação sempre foi uma constante em minha vida. Aquela divisão antiga do ensino, primário, ginásio, científico, curso superior era muito mais objetiva, tinha um sentido lógico. Eu acho que com essas reformas do ensino houve uma sobrecarga de matérias, e a junção do ginásio com o primário também sobrecarrega as crianças com matérias que não têm objetivo na sua formação, elimina o tempo e a própria capacidade de aprendizagem das matérias objetivamente necessárias. O trato das idéias deve ficar no primário grau, e o segundo grau tratar da condução da profissão que a pessoa pretende abraçar. Nós temos hoje pessoas que terminam o ensino médio sem saber em que profissão avançar, exatamente porque não foram conduzidas para essa finalidade.

Da época com toda certeza. O livro retrata a questão sociológica da época; a relação entre o coronelismo, o chefe político e o povo, a interligação de poder, de mando, a força política dirigindo os destinos do município sem pensar na coletividade. Se a pessoa pertencia ao partido político dominante, tinha tudo; se não, era perseguida, espezinhada, até seus bens eram tomados. Foi o que aconteceu com Antônio Dó.

Parece que a superação é uma constante em sua vida. Fez agronomia, que não era exatamente o que queria, mas chegou ao máximo que o município poderia dar. Aí vem o Direito e também tem uma trajetória interessante.
De fato, sempre fui muito determinado, quando decido fazer uma coisa, me dou o máximo e tento fazer o melhor.

A faculdade ajudou?
Ajudou, em parte ajudou, mas você sabe que escrever precisa ter a veia realmente; o preparo cultural aperfeiçoa, mas não faz um escritor. O bom professor de português geralmente não é um bom escritor, porque o bom escritor tem que dizer o que sente, ser autêntico, sem a preocupação com regras de gramática.

Para quem vive de desafio, vencido um é lançado o próximo?
É, mas sinceramente, não tenho mais uma projeção de vida que me autorize lançar um desafio dessa envergadura. Pode até ser que alguma coisa seja produzida, mas de menor escala. Eu até falo no livro, e talvez seja onde tem um pouco de Petrônio: Montaigne (refere-se ao escritor e ensaísta francês Michel Eyquem de Montaigne) nos afirma que a gente não deve pensar na morte, deve cuidar da vida plantando nossas couves. Eu vou continuar plantando minhas couves.


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Serrano de Pilão Arcado – A Saga de Antônio Dó
Petrônio Braz
Romance, 2006
Editora Mundo Jurídico, 596 páginas

Comentários

  1. Alô Jerusia Arruda,

    Você foi muito feliz na entrevista que fez com o acadêmico Petrônio Braz, quando ele falou sobre a sua obra Serrano do Pilão Arcado (A saga de Antônio Dó) O nosso confrade Petrônio Braz tem mostrado competência e conhecimento histórico em suas obras. Ele é um excelente escritor. Parabéns Petrônio Braz e parabéns Jerusia pelo seu trabalho.

    Um amplexo de
    Dário Teixeira Cotrim

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  2. Obrigada meu querido Dário. É uma honra recebê-lo neste espaço. Espero em breve publicar uma entrevista com voce. Abraços. Jerusia

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  3. CARISSIMA jERUSIA, SOU ESCRITOR, 15 LIVROS PUBLICADOS, E GOSTEI DE VER O MODO COMO CONDUZIU A ENTREVISTA COM O PETRONIO.GOSTARIA DE CONTAR COM A SUA GENEROSIDADE NO SENTIDO DE ENMVIAR PARA MEU EMAIL O JEITO DE FALAR COM MEU PADRIM eSCRITOR jOÃO vALLE mAURICIO,QUE MUITO ME GUIOU NA VIDA E NA ARTE.TENHO LIVROS ESPALHADOS POR BOA PARTE DO MUNDO, ENTRE ELA A BIBLIOTECA INTERNACIONAL DE SIDNEY, NA AUSTRÁLIA.SOU HUMILDE FEITO CACHORRO COM DONO.PORISSO ESTOU CORADO AQUI EM FALAR DE MINHAS PERIPÉCIAS.FIQUE COM DEUS E AGUARDO ANSIOSO SUA GENEROSIDADE.

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