Madame Saatan

Música para todos
Estilos e múltiplas linguagens compartilham público e espaço

Jerúsia Arruda


Quando o assunto é música, Montes Claros, sem dúvida, é surpreendente. Graças aos incontáveis nomes famosos e anônimos que atestam a virtuosidade musical dessa cidade centenária que tem, entre tantos epítetos, o decantado título de cidade da arte e da cultura, é possível percorrer por vários estilos musicais em uma mesma noite, sem que seja necessário atravessar mais de dois quarteirões.
Assim foi na noite de quinta-feira, 14 de agosto.
Enquanto o som lúdico e inebriante dos tambores dos congadeiros ecoava nos arredores da Igrejinha do Rosário, bem perto, na antiga usina, hoje Casa da Juventude, o rock pesado rolava solto, arrebatando corações e mentes desavisados que por ali passavam e acabavam entrando para aliviar a curiosidade.
No palco, jovens sacudiam suas longas madeixas e empunhavam suas guitarras enquanto cantavam, em vozes roucas, letras ininteligíveis, mas de melodia contagiante, levando a platéia ao delírio, literalmente.
No afã, latinhas de refrigerantes voavam sobre as cabeças enquanto um pequeno grupo dominava a pista, bem ao pé do palco, com empurrões, encontrões e movimentos que se pareciam com tudo, menos com dança.
Segundo os organizadores, a iniciativa vem sendo planejada há mais de um ano e visa a reestruturação da música independente e autoral local.
O movimento, chamado de Coletivo, é promovido por organizações não governamentais que visam o desenvolvimento e suporte para os músicos autorais e independentes de todo Brasil. Estima-se que na atualidade existam cerca de 40 coletivos em todo país, sendo apenas dois em Minas Gerais; um em Uberlândia e outro em Sabará. Em Montes Claros, é chamado de Coletivo Retomada e realizado numa parceria da produtora Stereo, Souza de Paula – Comunicação Cultural, Coordenadoria da Juventude, Prefeitura de Montes Claros, Citódio Rock e a loja Red Street, e do Circuito Fora do Eixo e Espaço Cubo, do Mato Grosso.

O show

O primeiro a subir ao palco foi o grupo Furo, dando seus primeiros passos em Montes Claros. Mais experiente, mas ainda na fase performática, a banda Vomer, também de Montes Claros, apresentou um repertório basicamente autoral e fez a adrenalina subir às alturas.
No encerramento, com imagens do Círio de Nazaré e recomendação de Zé do Caixão, no telão, o público foi surpreendido com a apresentação, ao vivo, do quarteto metal paraense Madame Saatan, liderado pela vocalista Sammliz. Referência nacional no estilo, o grupo mistura heavy metal com diversos ritmos populares brasileiros, numa leitura instigante da música pesada, mas com a suavidade ritual da vocalista que não nega suas origens musicais.
No backstage, um fusion de profissionais e fãs que por mais atentos que estivessem não se continham e, de vez quando, para não dizer quase o tempo todo, sacudiam a cabeleira a cada rasante das guitarras, incontinenti. Na platéia, figurinhas carimbadas do rock de garage. Um espetáculo de músicos para músicos.

Festas de Agosto

Se na Casa da Juventude o heavy metal é quem dá o tom, bem próximo dali, na avenida Coronel Prates, a harmonia é bem diferente. A guitarra jazzística de Jobert Narciso se conecta a centenas de espectadores que apreciam a música instrumental. Acompanhado de Cláudio Mineiro (percussão), Xandão (baixo) Fred (piano) e André (bateria), Bob volta a sua terra natal depois de anos vivendo em Floripa, como sói, tocando como nunca sua Gibson.
Em seguida, a avenida se contagia com o som da viola caipira de Rodrigo Azevedo, que apresenta um show curto e certeiro, assegurando que a noite deve ficar mesmo por conta da música caipira. Daí em diante, reina absoluto, Pereira da Viola.
Esse foi o primeiro dia do Festival Folclórico e o segundo das Festas de Agosto que, como festa da integração social, também integra todos os elementos musicais, ainda que em espaços diferentes.
Assim é Montes Claros. Surpreendente.

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