Funorte x Itaúna

Um dia de formigalática

Jerúsia Arruda


Apesar do sol forte ser desafiador, resolvi encarar. No último domingo, 15/03, fui conferir de perto a disputa entre Funorte e Itaúna, pela décima rodada do primeiro turno do Campeonato Mineiro.
Nem ouso tecer comentários técnicos sobre o jogo, mas também não posso deixar de registrar minhas impressões sobre a inusitada disputa.

Inusitada? Perguntariam os amantes do bom e amado futebol. Eu, como marinheira de poucas viagens, reafirmo: inusitada.
Para começar, o preço do ingresso, que custava a bagatela de R$10, 00, mas uma fortuna para o grande público que certamente teve no valor um dos motivos para não comparecer ao estádio José Maria Melo.

Falando em estádio, esse foi o segundo item a chamar minha distraída atenção. Como poderia defini-lo? Largado, jogado, pobre coitado. Quase não dava para ver as marcas brancas no gramado. O alambrado retorcido, com pontas afiadas fez sagrar mãos, no afã da torcida, no calor do “vai, vai, vai!”.
A vizinhança se fartou com as bolas atiradas para fora, na rua mesmo. Envolvida que estava com o espetáculo futebolístico, nem prestei atenção se eram devolvidas ao jogo.
Confesso que cheguei a me preocupar com os repórteres cinematográficos que, ao forte sol do norte, não perdiam nem um lance. Aliás, até me surpreendi com a concorrida cobertura da imprensa. Uma baba. Tinha repórter até na laje. Laje que poderia tranqüilamente ser transformada em um belo camarote.
Mas como quem foi rei nunca perde a majestade, o velho palco de grandes alegrias segurou a onda bonito e, apesar das vicissitudes, não posso negar: foi um belo espetáculo.

O que sempre se ouve por aí é que mulher só assiste futebol para ver tanquinhos suados e pernas troncudas. Logo que adentrei no estádio me lembrei dessa máxima. Olhei de um lado pra outro e não teve jeito. Tive que me sentar perto de um bando de tanquinhos, nem sempre sarados, mas muito expostos – não tinha uma área vip para mulheres, onde fosse proibido falar palavrões contra a mãe do juiz, do técnico, de Charles Miller.

Olha, é incrível como os homens conseguem esquecer os problemas, as tristezas, o chefe, a sogra, o mundo, até de si mesmos quando assistem futebol. Na verdade, mais que assistir ao jogo, se tornam parte dele. Um time inteiro de técnicos que sabem - e fazem questão de gritar para todo mundo ouvir –, a hora certa de chutar, de trocar, de pedir para sair, de apitar, de levantar a bandeira. E ai de quem contestar. O jogo inteiro foi assim. No final até eu já estava dando dicas ao técnico.

Falando em técnico, imagino que não deve ser um trabalho muito fácil, mas pressuponho que quem se habilita para tal cargo deve se preparar para enfrentar a onda de críticas que assola até sua última geração, a cada jogo. Por isso me surpreendi quando o técnico fez o gesto nada sutil de “aqui ó”, com o dedo e genitália ao ser provocado pela torcida. É mole?

Outra coisa que me chamou a atenção durante todo o jogo foram os MP4, celulares e os velhos radinhos a pilha, que para o bom amante do futebol nunca saem de moda, todos sintonizados numa partida de futebol. A maioria, no mesmo jogo a que assistia. Cheguei em casa com os sotaques de Gil Santos, da Rádio Terra e de Nairlan, da Expressão, gravados na memória.

Na minha memória também ficaram as expressões que sempre ouço na tv e que, nesse domingo, me tomaram de assalto. “Bola murcha” para o zagueiro (?) que escorregou na hora do lance que para torcida era gol feito. Os famosos “Ahh!”, “Uhh!”.
Mas o que mais marcou meus incautos ouvidos foi o grito “Ditinho, Ditinho”. Todo mundo sabe do meu amor pela arte. E mais uma vez vi como ela prevalece em todo lugar, inconteste. O menino Ditinho (foto) soube despertar a sensibilidade e os aplausos de marmanjos com sua arte. Palmas para Ditinho.

O que poderia ser chamado um clássico da Série B, terminou em empate; 1 x 1. Nas arquibancadas, os quase setecentos pagantes torceram veementemente pela vitória do Formigão montesclarense.

No meio desse frenesi, constatei, mais uma vez, que é impossível resistir à magia do futebol. Me joguei. Torci sem dó. Me senti uma formigalática, como anunciava uma faixa gigantesca na entrada do estádio, se referindo à torcida do Funorte, o Formigão.

É uma pena que esporte e lazer há muito não tenham vez na administração pública municipal. Mas, pelo que pude notar neste domingo, se depender da vontade do time tricolor e da torcida que vem se aumentando a cada jogo, o futebol voltará a ser atração nas tardes de domingo nestes claros montes.

Comentários

  1. Bom dia,

    Obrigado pelas considerações e aguardamos nova visita sua ao estadio e em nossas dependencias para as considerações que se julgarem necessárias.

    Sem mais

    Cristiano Junior

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  2. Maravilhoso... é só o q posso dizer.
    A mente de um jornalista é mais profunda do que se possa imaginar.
    bjos
    Nairlan

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  3. Menina, tô impressionado. Pra quem diz que não entende de bola, vc bate um bolão. Do que adianta falar do jogo e não enxergar o que realmente importa. O Funorte ta caminhando sozinho e ninguem diz nada, só se o time ganhou, perdeu, jogou mal, jogou bem. Isso todo mundo fala. Aproveita e coloca aí que jogador pago em dia pode fazer milagres.
    Show de bola o blog. Parabéns.
    Leandro Viana

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  4. Jerusia, voce diz que o estádio está jogado, mas ele acabou de passar por uma reforma. Das duas uma: ou é implicância sua ou fizeram serviço meia-boca. No próximo jogo vou la conferir.

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  5. Acho muita frescura voce querer uma área vip só para as mulheres. Mulher tem que ficar é junto dos homens pra entender que o que eles fazem é torcer, amar futebol, só isso. Assim param de ter ciúmes bestas.

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  6. Voce tem razão, o técnico pegou mal apelando com a torcida. Aliás, já tem um tempo que ele fala e faz umas coisas que deveriam ser discutidas. Não aguenta pressão, sai fora.

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  7. Ditinho é mesmo um espetáculo à parte. Aliás, é o único que joga mesmo no Funorte. O resto não ta com nada.

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  8. Futebol já foi uma grande paixão do povo de Montes Claros. Ville até tentou, mas a falta de apoio fez ele desistir. Se Ruy Muniz não ficar esperto ele também não vai aguentar. Ta na hora do povo começar a exigir da prefeitura. Acabou o futebol, acabou o carnaval. O povo precisa de pão e circo pra viver. Senão, ninguem aguenta.
    Sei que voce não vai publicar isso, então posso dizer. Montes Claros é foda. Prefeitura não ta nem aí p o povo. Acha que trabalhar é tapar buraco. E o lazer? Ninguém é de ferro não.

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  9. Oi Jê. Fiquei com inveja. Queria ter ido ao jogo também. na próxima, me chama. Tanquinho heim.
    beijo,
    Bia

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  10. Ô menina, agora vc virou comentarista de futebol? Foi bem, pode continuar indo aos jogos. Mas a arte não faltou né?
    Grande beijo,
    saudade.
    Rodrigo

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  11. Ei Jerusia. Só faltou vc falar do das pessoas que assistem ao jogo da sacada de suas casa. Tava na casa de amiga e assiti tudo. Só não deu pra ver o gol do Itaúna, por causa do muro. Mas ta bom. Economizei dezin.
    Adorei o blog. Mande mensagem quando postar novos textos.
    Um beijo.
    Stenio

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  12. Ei Jê. Jornalista é fogo mesmo né. Não deixa passar nada. Vc se lembrou de assitir o jogo né?
    Também tava lá, mas não reparei nada disso. vc tem razão. O estádio ta meio ruinzinho mesmo.
    Que história é essa de corte na mão. E sério? Cruz credo.Vê se aparece, anda muito sumida.
    Beijoca.
    Paulinha

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  13. Oi Jê. Olha, me deu vontade de estar aí, de ir ao jogo com você. Nem sabia que Montes Claros tinha time profissional. Que legal.Como vai todo munod? E os shows? Vamos combinar de fazer um som juntos qualque r dia. Um beijão. Beto

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  14. Gente!
    Até no futebol vc anda se metendo menina?
    Mas pra quem se diz leiga, os comentários foram muito bons.
    Eu, na 1ª, 2ª até a última divisão não consigo e não posso desistir do meu GALOOOOOO!

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  15. Somente você para transfomar uma sonolenta partida de futebol do FUNORTE, em uma matéria interessante, parabéns.

    João Rezende

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