Domingo de feira

Em Montes Claros, no Major Prates, as manhãs de domingo são animadas, coloridas e saborosas, com a multiplicidade de ofertas da feira que acontece no bairro há cerca de 15 anos


Jerusia Arruda


Enquanto a maioria dos montes-clarenses aproveita a folga de domingo para dormir até mais tarde, no bairro Major Prates, zona sul de Montes Claros, as manhãs de domingo começam sob a efervescência típica das feiras livres, com a tradicional Feira do Major, que movimenta as principais avenidas do bairro há cerca de 15 anos.

A feira já se consolidou de tal forma que atrai pessoas de todas as classes sociais e de todas as regiões da cidade, que além de buscar pela infinidade de produtos vendidos sob as lonas azuis, aproveitam para um dedo de prosa com os amigos, tomar um aperitivo e degustar os pasteis, beijus e churrasquinhos que exalam seu cheiro por toda feira.

Entre as cores e cheiros que se renovam a cada barraca, é impossível ficar indiferente e não ceder à tentação de experimentar uma folha fresquinha, um pedacinho de pau de canela ou mordiscar uma fruta enquanto o feirante embala, nas tradicionais perucas, as frutas e hortaliças cultivadas em pequenas propriedades nas comunidades rurais do município.

E tem de tudo. Frutas da estação – no último final de semana o destaque ficou por conta das carambolas, jacas, pinhas e seriguelas que estavam de encher os olhos - pimenta de todos os tipos, doces, ovos, galinha caipira, queijos, verduras, folhas, biscoitos, chás para emagrecer, manteiga de garrafa e dezenas de outros produtos que atraem compradores e curiosos.


A pechinha, também típica da feira, é embalada pelo som que vem da esquina das avenidas Castelar Prates e Francisco Gaetani e toma conta de toda a área, alegrando o ambiente. O som vem da sanfona de Marin do Forró, que já estacionava sua cadeira de rodas no local antes mesmo do início do projeto da feira. Acompanhado de amigos forrozeiros, Marin solta a voz e chama a atenção até dos passageiros dos coletivos que acompanham, curiosos, a inusitada banda enquanto aguardam o sinal verde do semáforo na movimentada esquina.

- Nosso som já é parte desta festa que se tornou a feira do Major. Sem o forró de domingo, parece que a semana não começa no bairro – diz Marin, entre os cumprimentos dos amigos que gritam seu nome ao passar pela esquina, de carro, ônibus, bicicleta ou a pé mesmo.

DIVERSÃO E RENDA
Dona Maria Lúcia, de 62 anos diz que trabalha na feira há quase dez anos.

- Além de garantir um dinheirinho para as despesas miúdas como leite, pão, uma coisinha ou outra, a feira é uma distração. Aqui encontro velhos amigos e conheço pessoas novas. Me sinto muito feliz – observa a Dona Maria, que mantém uma barraca com temperos, corante e mudas de frutas e de plantas ornamentais.
Seu Braz, de 62 anos compartilha o espaço e a alegria de trabalhar na feira com Dona Maria. Entre queijos, frutas e verduras, ele aproveita para um dedo de prosa com os amigos.

- A feira mudou a história de muita gente por aqui, inclusive a minha - observa.

E mudou mesmo. Pelo menos é o que diz Gracielle, que chega bem cedo da comunidade de Atoleiro para vender tudo o que colhe na propriedade de sua família.

- Não dá muito dinheiro não, mas é divertido. Além disso, é uma forma de dar um destino às hortaliças que produzimos. Já me acostumei a sair todos os domingos bem cedo para a feira. Acho que vai ser sempre assim. E se for, vou gostar muito – garante a jovem agricultora.

PONTO DE ENCONTRO
Numa roda animada a cerveja e torresmo, José Oswaldo diz que essa é a rotina de suas manhãs de domingo.

- Minha mulher gosta de vir comprar peixe fresco, pimenta de cheiro, folhas para a salada do almoço e aproveito para encontrar alguns feirantes que conheço desde que começou a feira no bairro. É como se passassem fazer parte da família. Tem alguns que conheço quando ainda nem tinha me casado e hoje eles também conhecem meus filhos. Alguns até trazem uma fruta, um presentinho de vez em quando. Isso aqui é a vida do Major – avalia o advogado.

Marluce, que também mora no bairro, diz que todo domingo aproveita para saborear um pastel, que, segundo ela, é a maior atração da feira.

- Ninguém come nada no café da manhã lá em casa só para vir comer pastel na feira. Quando dá preguiça de vir, peço alguém para buscar, mas café com pastel no domingo é sagrado – conta.

Na feira do Major Prates, todo domingo é assim. E a cada semana, mais pessoas descobrem que este é um jeito novo de curtir a preguiça do domingo e ainda conhecer um pouco mais da cultura e cordialidade do povo norte-mineiro, saboreando suas delícias.

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