Geração Y

Nascida para empreender

Jerúsia Arruda

Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff determinou o fim do sigilo eterno de documentos classificados como ultrassecretos e pediu ao Senado a aprovação de projeto de lei que libere o acesso a informações públicas.

Considerando a trajetória de vida, especialmente a militância política da presidenta, a medida é mais do que coerente já que muitas famílias brasileiras sofreram com os atos militares nos obscuros porões da ditadura e é um direito do povo brasileiro conhecer sua própria história.

A decisão da presidenta e seu próprio histórico de vida nos levam a uma inevitável reflexão sobre o caminho percorrido pela humanidade ao longo das décadas e como as diferentes gerações se posicionaram e o estilo de vida que adotaram diante da realidade de sua época.

A humanidade viveu o período de guerras, viu países e povos serem dizimados, passou pela grande depressão, lutou pela paz no período pós-guerra, viveu mudanças nas relações sociais e de trabalho, rompeu padrões e valores coletivos e individuais, sofreu violentas crises financeiras, defendeu o consenso e a liberdade, assistiu às mudanças sofridas pelo planeta e, a cada geração, teve que se adaptar para se integrar à época e suas contingências.

Apesar de algumas gerações terem marcado época mais profundamente, não só pela força poderosa das mudanças impingidas, mas também pelo estardalhaço com que defenderam suas bandeiras, como as gerações dos anos 60/70, nesse momento, nosso olhar se volta para a chamada geração Y, iniciada a partir de 1978 e que hoje compreende pessoas entre 18 e 30 anos.

A geração Y surgiu numa época em que o mundo vivia uma fase mais estável, quando a tecnologia e seus avanços já não eram um mistério. Concebida na era digital, a geração Y cresceu tendo acesso à educação, à internet, aos novos meios de comunicação que além de intensificar a circulação de informações e reduzir as distâncias criou novos conceitos e oportunidades. É uma geração sem apegos, que busca o tempo todo por novos desafios, tem autoestima, sabe impor seus valores, espera respeito mútuo e vê todos em uma situação de igualdade, trabalha em rede fazendo várias coisas ao mesmo tempo, vive mudando de lugar e acredita que tudo é possível.

Apesar de muitas vezes parecem insubordinadas e superficiais, as pessoas desta geração buscam a liberdade de escolha, fazem o que gostam, não se sujeitam a imposições, o que nas gerações anteriores ficou apenas no conceito. Por mais que pareça agir em interesse próprio, as atitudes dessa geração estão levando a sociedade para um novo estágio, mais voltada para o ser humano, que é o que realmente importa.

Uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Administração/USP com 200 jovens de São Paulo revelou que 99% dos nascidos entre 1980 e 1993 só se mantêm envolvidos em atividades que gostam e 96% acreditam que o objetivo do trabalho é a realização pessoal. Na questão "qual pessoa gostariam de ser?", a resposta "equilibrado entre vida profissional e pessoal" alcançou o topo, seguida de perto por "fazer o que gosta e dá prazer".

De acordo com um estudo da consultoria americana Rainmaker Thinking, os jovens da geração Y saem cada vez mais tarde da casa dos pais, são liberais no consumo, gostam de novidades e têm o hábito de sempre postergar responsabilidades ou compromissos. Não é uma geração que busca independência, mas quer uma identidade que a relacione a uma comunidade e, geração digital, está sempre presente nos espaços da rede social.

Na relação com o mercado de trabalho, tão decantada pelas gerações anteriores que buscaram por estabilidade e status pessoal, a geração Y é imediatista e impulsiva e não pensa duas vezes para mudar de emprego caso não encontre recompensa financeira ou não se sinta valorizada ou confortável no ambiente corporativo.


Ansiosa, espera constante feedback de seu trabalho, quer regras claras, resultados rápidos, e desafios constantes. Mas não se importa de ser testada, desde que seja com ética e competência, e está disposta a aprender o tempo todo para que continue crescendo na vida pessoal e profissional. Segundo o estudo, para a geração Y a clareza e a honestidade nas relações são essenciais.

Para a geração Y a existência pode ser customizada e a vida instigante.

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