Patrimônio histórico ameaçado

Igreja mais antiga de Minas pede socorro


A notícia de hoje nos chega através do colega fotógrafo e jornalista Manoel de Freitas, um grande observador das belezas e riquezas do Norte de Minas.  Na pauta, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Matias Cardoso, considerada a mais antiga de Minas Gerais.

Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1954, a igreja está em avançado estado de degradação, desmoronando todo dia um pouco, ferindo de morte um conjunto de bens culturais de valor incalculável, além de colocar em risco a vida dos fiéis. A história da Igreja Matriz de Matias Cardoso está ligada a incursões de bandeirantes paulistas no sertão mineiro em busca de ouro e pedras preciosas. Januário Cardoso foi o principal benfeitor do arraial, assim como edificador da igreja, provavelmente construída entre 1670 e 1673.

Daí é inadmissível que continue sendo protelado seu processo de restauração, anunciado nos quatro últimos anos pelos deputados que integram a bancada de Minas na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal, e, sobretudo, pelo prefeito reeleito João Cordoval de Barros, o “João Pescador”. O chefe do executivo de Matias chegou a anunciar que a verba para o restauro do maior patrimônio do município estava garantida junto a Petrobrás, dependendo apenas de “algumas assinaturas”.

O certo é que, na sexta-feira da semana passada, apenas três fiéis acompanhavam a missa na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade. De modo que a ameaça de desabamento, de ruir o teto ornamentado por obras de artes de reconhecido valor no mundo inteiro, cada dia mais afasta os católicos da curiosa edificação em forma de fortaleza, em alvenaria, com tijolos requeimados. Mais curioso ainda é que, a despeito de tamanha fragilidade, com o objetivo de homenagear personalidades, no dia 8 de dezembro, quando se celebra a festa de sua padroeira, se transforma em “Capital de Minas”, ensejando a entrega de mais de 100 Medalhas de “Maria da Cruz e Mathias Cardoso, Comenda Civismo e Consciência dos Gerais”.

A situação é tão caótica que, segundo o Jornal da Serra Geral de Minas, com sede em Janaúba, durante o período chuvoso o padre Adailton Oliveira da Costa celebra as missas usando guarda-chuva, face às inúmeras goteiras. Um verdadeiro atentado ao passado de Minas, estampado em seu rico interior, em suas torres laterais quadrangulares, no muro com colunas nos ângulos e nos portões e na sucessão de arcos semicirculares, formando um avarandado no térreo, sob os corredores superiores.

Sua importância histórica - no entorno surgiu o primeiro povoamento e núcleo urbano de Minas Gerais, - não tem sido suficiente para garantir a restauração da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída pelos jesuítas no século XVII. E o descaso é tão antigo como a edificação: desde que foi erguida, passou por uma reforma, em 1912, e conserto e pintura, em 1998, realizados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

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