Baleteatro desafia fronteiras regionais

Em nove anos, o grupo Ditarso conseguiu manter uma agenda fixa de espetáculos graças à aprovação em diversos editais de leis de incentivo à cultura


Já dizia Raul Seixas, na música Prelúdio (1974), que “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Talvez esta frase retrate bem a história do Grupo Ditarso, companhia de dança criada pelo bailarino e coreógrafo Paulo di Tarso numa época em que o universo da dança no Norte de Minas ainda era bem incipiente, e que, nos últimos anos, vem ampliando fronteiras, alcançando outros públicos, atraindo a atenção de grandes companhias de danças Brasil afora.

Fundado em Montes Claros em 2001, o Ditarso nasceu de um projeto-sonho, que reuniu jovens ainda inexperientes, mas talentosos, que somaram seus sonhos aos de seu mentor. “Desde o início, o objetivo era a construção de um grupo profissional que permitisse a todos o exercício de sua arte com dignidade”, conta di Tarso.

Passados nove anos, o grupo já vivenciou experiências como poucas companhias de dança do país. O impulso veio com o espetáculo Pedro e o Lobo, que ganhou as estradas nortemineiras levando o baleteatro às escolas públicas e praças com incentivo da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Governo de Minas Gerais, Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, e pelo programa BNB de Cultura.

O espetáculo que estreou em 2001, foi visto por milhares de crianças da rede pública de Montes Claros, durante uma temporada de dois anos, quando foi apresentado gratuitamente no centro cultural Hermes de Paula e, depois, em escolas públicas de cidades da região.

Durante esse tempo, na sala de ensaio, os bailarinos se desdobravam em improvisações e pesquisas, gerando material para o seu próximo passo: Três dias antes, três dias depois - primeira peça de dança contemporânea da companhia e que também foi contemplado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, circulando por cidades como São João Del Rey, Varginha, Viçosa e Uberaba. O espetáculo, que estreou em agosto de 2003, é uma colagem de fragmentos criados pelos bailarinos e organizados por Paulo na construção e desconstrução de espaços, revelando universos pessoais e suas interseções.

Arte para todos

Mas Pedro e o Lobo era o espetáculo que abriria novos horizontes para o grupo. Ao apresentar o espetáculo em praça pública em Pedras de Maria da Cruz, no extremo norte de Minas, em 2004, di Tarso conta que o grupo se entusiasmou com o impacto causado nas crianças e decidiu levar o espetáculo para outras cidades da região. “Foi assim que nasceu o Projeto Pedro e o Lobo. A proposta foi realizar as apresentações em espaço público, gratuitamente, de forma que todos pudessem ter acesso", relembra Paulo.

Homônimo do clássico infantil russo, segundo Paulo di Tarso, na versão para a dança criada pelo grupo, foram observados os valores necessários a uma infância culturalmente rica e o estímulo a uma fantasia saudável. “Historicamente, a arte erudita esteve confinada a espaços destinados às elites, não apenas em termos de sua apropriação concreta, mas, sobretudo, em termos de sua apropriação simbólica. Pedro e o Lobo foge desse estereótipo, primeiro, por propor a gratuidade das apresentações assegurando o acesso mesmo que haja impedimento financeiro. Segundo, por acontecer em praças públicas cujo acesso é irrestrito, sem barreiras físicas ou culturais. Terceiro, por se adequar aos costumes das localidades ao eleger as noites de domingo como momento privilegiado para reunir a comunidade em torno do espetáculo”, explica.

Parcerias

Desde sua criação, o grupo vem conseguindo que seus espetáculos sejam aprovados por leis de incentivo. “Para alcançar esse resultado é preciso muito profissionalismo, muito curso de gestão cultural. Os bailarinos que integram o grupo têm salário fixo, cumprem uma jornada diária e todas as responsabilidades profissionais de um contrato de trabalho”, observa Paulo.

No ano passado, Ditarso viajou com Pedro e Lobo pelo interior de Minas através do Programa Cena Minas, com 18 apresentações gratuitas em escolas estaduais, além das apresentações gratuitas em praças públicas, viabilizadas pelo Programa BNB de Cultura e aporte financeiro do Café Letícia.

Neste ano, o grupo foi novamente contemplado pelo BNB de Cultura e Fundo Estadual de Cultura que vão subsidiar o espetáculo infantil Era uma vez na floresta, que versa sobre as lendas folclóricas das barrancas do rio São Francisco, especialmente de Januária. “Com esse espetáculo vamos iniciar um circuito de dança no interior de Minas, trazendo grupos de outras regiões para se apresentar em Montes Claros e no Norte de Minas. Temos uma boa integração com outras companhias e queremos manter um diálogo cultural, compartilhar a riqueza de nossa região da mesma forma que temos sido recebidos em outras cidades”, analisa Paulo di Tarso.

O bailarino Fabiano Santos, que integra o grupo desde sua criação, diz que o desafio é diário, mas a recompensa vem a cada apresentação. “Temos trabalhado com muita seriedade e me sinto mais preparado a cada espetáculo e com os cursos que fazemos constantemente. O Ditarso é uma realização pessoal”, ressalta.

Em fase de estruturação do espetáculo Era uma vez na floresta, Paulo di Tarso diz que é preciso muito trabalho para encarar a jornada que o grupo tem pela frente. “Vamos varrer o Estado inteiro e para isso precisamos estar preparados. O sonho continua cada vez mais real”, finaliza o coreógrafo.

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